Sobre bandeiras, gigantes e televisões
Bernardo Rodrigues da Siva
23/06/2013
Confesso que fazia certo tempo
que não sentia essa necessidade de levantar de madrugada para transcrever tudo
ou parte daquilo que se passava em minha cabeça, durante todos os pensamentos
entre sonhos e ressonos. Pois bem, inicio dizendo que é madrugada do dia 23 de
junho de 2013, inverno no hemisfério sul do mundo e frio na região sul do
Brasil. A situação da atualidade é instável, porém bela.
Durante os últimos dias, nas ruas
de todo o Brasil, milhares de pessoas tem aderido ao movimento, que
inicialmente, tinha por pauta o aumento da passagem do transporte público, mas
que muito rapidamente ganhou maiores proporções. E o que antes se achava que
era um movimento contra o aumento da tarifa do transporte público, logo
descobriu-se que era apenas a ponta de um iceberg.
Com uma olhada mais ampla no
iceberg percebe-se descontentamento político com a corrupção, que logo originou
pautas mais diretas e claras que dariam um rumo aos objetivos do movimento.
Em primeiro momento, a mídia
televisa de maior visibilidade, que por muitas vezes é a única rede de
televisão possível de se conseguir transmissão, se mostrou contra o movimento
chamando os participantes de baderneiros. Porém, desta vez, a internet
contribuiu em muito para mostrar o outro lado, a visibilidade foi ampla e
muitos dos que se dizem de direita (a maioria destes nem sabem ao certo o que é
direita) e outros que nem posição política tinham abriram os olhos, ou
despertaram, como gostam de dizer, dando gritos, dizendo que o gigante acordou.
Toda a sorte deste dito gigante é
que temos uma minoria, de antiga sabedoria, que há muito busca mudanças no país.
Esta minoria, muitas vezes marginalizada e com imagem de rebeldes sem causa (imagem
esta atribuída pelas maiores redes televisivas), julgada, na maioria das vezes,
pelo modo que se veste e pelo modo que se porta. Pois bem, muita sorte deste
gigante (que, diga-se de passagem, ainda é uma criança) que possui essa minoria
para orientá-lo. Assim como qualquer criança ele precisa de orientação.
Antes de continuar, é preciso
ressaltar que a rede de televisão citada sempre foi contrária a este e a
qualquer outro tipo de movimento de esquerda política. Então, não se surpreenda,
se alguns fatos, que você se julgava contra, passar a descobrir que na verdade,
era a favor e não sabia.
Leia mais e tente se informar
através da história, descubra por si a sua opinião, mas muito cuidado com as
fontes, caso contrário, você terá sua opinião facilmente manipulada pelo
primeiro texto que ler.
A tal rede de televisão que me
referi anteriormente teve seu nascimento e criação na época de maior repressão
política no Brasil, a ditadura militar, e acredite, ela aprendeu direitinho com
a mamãe.
Voltando a atualidade, como qualquer
criança o gigante após o manifesto se voltou aos telejornais para ver o impacto
que tinha provocado (Sim! Daquela mesma rede televisiva que te falei
anteriormente). A rede televisiva, percebendo que iria perder “amigos” rapidamente
se mostrou a favor dos manifestantes e de sua pauta contra a corrupção (como se
a pauta fosse única e como se a pauta “contra a corrupção” fosse uma pauta de
verdade) e mostrou repúdio aos baderneiros que estavam poluindo a imagem do
manifesto, dando total razão para a polícia. Penso que foi este o momento em que
o gigante se dividiu em dois.
Uma parte do gigante desperto,
que não tinha ido ao manifesto, mas que, em casa, ficou sabendo através da rede
social da internet, mostrou seu orgulho ao ver as milhares de pessoas na rua,
mas ao mesmo tempo, mostrou seu repúdio ao ver os “baderneiros” na televisão. E
quase que instantaneamente, mais rápido do que macarrão instantâneo, publicou
novamente nas redes sociais “Eu apoio o manifesto, mas sem violência gente, por
favor” ou ainda “Esses baderneiros não me representam”. Sem ao menos procurar
outras fontes ou tentar entender os fatos, somente pelo status provocado ao
publicar uma inocente(mas com possíveis graves consequências) mensagem.
Outro grupo no meio do protesto
surgiu e ganhou vários adeptos em todo o território nacional, este grupo não
faz parte de nenhum dos dois gigantes divididos, nem da rede de televisão, mas
que sem saber (será que eles não sabem mesmo?) contribuem e em muito para o que
a grande mídia quer passar sobre os manifestantes. Este grupo, sempre que sai,
durante os protestos, são identificados pelo uso de máscaras, tratarei deles,
neste texto, como os mascarados anônimos. Pois são estes mascarados, que estão sim
no seu direito de protesto, os que acabam achando que são reis e podem colocar o
governo a seus pés (o que de fato é verdade).
Apesar de bem intencionados, os
mascarados anônimos, são anônimos, e qualquer conselho vindo de alguém que não
mostra a cara, para mim não serve, perde a legitimidade. Confiar cegamente em
alguém que não mostra a cara é como confiar cegamente na rede de televisão.
Queimar e pixar tem sua legitimidade sim, mas somente quando feito em local e
com razão apropriada, mascarado ou não. E geralmente, estes mascarados anônimos
pixam e quebram sem motivo concreto, parecendo vandalismo. Mas vale lembrar,
eles são fruto de qual sistema político?
A segunda parte do gigante que
acordou, compõe-se basicamente por dois tipos de pessoas que foram as ruas e
gritaram. Uma grande parte delas com o devido conhecimento legislativo para tal
coisa, abraçando rapidamente uma pauta que melhor lhe agradava. E outra grande
parte sem conhecimento político e legislativo aprofundado (o que não é culpa
delas e sim do sistema falho de educação) com uma profunda vontade de fazer a
diferença, sem saber ao certo como. E são esses dois tipos de pessoas que
tornam a segunda parte do gigante mais legítimo.
Porém, como dito anteriormente, o
gigante é uma criança, uma criança que nasceu junto ao confronto, e como
qualquer criança, assusta-se ao ver uma bomba vindo em sua direção.
É nesse contexto que a televisão
tenta distorcer informações e mostrar que o problema “real” está dentro dos
manifestos, nos “bandidos” (assim ela chamou os manifestantes) que reagem
contra policiais e depredam prédios de patrimônio público e privado. Também
parece a mídia se esquece de comentar que os mesmos “bandidos” foram criados
pelas leis e sistema falho que rege o país, onde prevalece a desigualdade
social.
Lembra daquela minoria, de antiga
sabedoria, que comentei no início do texto, pois então, eles estão tendo um
papel fundamental na chamada, organização e pacificidade do protesto como um
todo. Isto porque as pautas exigidas pelo gigante nacional que acordou, são as
mesmas pautas de cunho esquerdista político que elas há tempos vem defendendo
no país.
A cada eleição é aquela minoria a
sempre menos votada. No horário eleitoral, geralmente, é esta minoria que
possui os menores orçamentos em seus vídeos e o menor número de minutos para
falar, porque eles não se corromperam no meio do caminho e fizeram coligações
com partidos de ideais contrários aos seus para terem maior tempo de propaganda
eleitoral.
Gigantes de toda a nação, esta
minoria, que levanta bandeira de partido político e movimentos sociais dentro
do protesto, é a mesma minoria que fez você surgir e despertar, por isso ouça
com atenção, e se necessário, estude várias fontes para distinguir qual é a
verdade.
Não faça mais uma vez o papel de
bobo! Caso não saiba um dos maiores exemplos de quem pregava a bandeira
antipartidária (ou seja, contra a participação de partidos) no Brasil foram os
fascistas skinheads (neo-nazistas) na
mesma época do nazismo de Hitler, em sua ditadura.
Por favor, gigante! Não caminhe
em direção à ditadura, aceite que suas propostas são de cunho esquerdista.
Pesquise qual é a base do esquerdismo político e não aceite opiniões antes de
pesquisar se elas tem fundamentação teórica, inclusive esta.
Presenciamos em Santa Maria dois
belíssimos protestos, um no dia 20 de junho de 2013 (à noite, com chuva, frio e
vento) com mais de 12 mil pessoas e outro no dia 22 de junho de 2013 (do final
da manhã ao início da tarde, sem almoço no horário) com sol e mais de 30 mil
pessoas, nós sabemos o que queremos, só precisamos nos manter organizados.
Você será criticado por ter sua
opinião, eu serei criticado por ter minha opinião. As críticas podem ser
positivas ou negativas, mas isso é democracia!
[propositalmente o texto foi deixado com alinhamento geral à esquerda]
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